Hoje estava assistindo o jogo de tênis dos atletas brasileiros. Durante a partida, fiz um tweet e refleti… algo que faço muitas vezes. Fico viajando em pensamentos e raramente coloco no papel.
Hoje decidi fazer diferente: escrever algumas coisas que falam diretamente com os jogadores profissionais de poker, os que querem ser profissionais, ou mesmo para qualquer pessoa que tem algum objetivo claro.
E quando eu digo “falar com os jogadores profissionais” gosto de lembrar que este é, também, um exercício de auto-reflexão.
Escrevi o seguinte: “como joga bola o Bellucci”. E naturalmente, sempre que o nome do Bellucci é falado, vem a resposta: “Mas é instável, não tem cabeça, blá blá blá”.
Concordo sim com muito disso, e em cima desse pensamento, refleti: “Quantos Belluccis não temos no poker, né?”
Nós, seres humanos, no alto de nossa arrogância e soberba, adoramos apontar dedos e falhas alheias, mas dificilmente paramos para refletir verdadeiramente quais são as nossas limitações, e quais os obstáculos que nos impedem de dar um passo a mais em direção de nossos objetivos.
Eu trabalho com muitos jogadores de poker, meu projeto com o Samba já tem mais de 2 anos e antes do próprio Samba tive pelo menos mais 1 ano e meio de experiência com outros jogadores.
Nesse período conheci muitos Belluccis! Belluccis em sua essência, jogadores extraordinários e inconstantes, que apesar da inconstância são/eram jogadores tão capacitados, que conseguiam se manter no mais alto nível do poker apesar da fragilidade mental.
Mas por outro lado outros tantos que, exatamente por uma fragilidade no que diz respeito às partes não técnicas do jogo, não conseguiram se manter jogando profissionalmente.
É razoavelmente fácil reconhecer um jogador inconstante mentalmente.
Ele está constantemente culpando a aleatoriedade por seus resultados (ou falta deles), se considera o ponto fora da curva no azar, tem certeza que está naquele grupo de 0.0001% de pessoas que simplesmente não consegue dar certo pela aleatoriedade envolvida no jogo.
Mas se tem uma coisa que o Poker tem de melhor que os outros esportes (e aqui, independe se você considera o poker um esporte ou não) é que você nunca será unânime! Simplesmente não é possível ser.
Consequentemente, sempre há espaço para evoluir dentro do jogo, se não na parte técnica, em outros aspectos que lhe permitam jogar o melhor Poker possível do mundo.
Não acho que nos tornaremos atletas olímpicos. Nunca seremos negativamente julgados pela mídia especializada, simplesmente porque o fator subjetivo do poker não dá espaço para isso.
Sempre é possível explicar alguma jogada absurda, e isso faz com que mesmo o melhor jogador do mundo se acomode.
É simples ver o Neymar fazer 2 jogos fracos nessa olímpiada e falar dele, porque o futebol não é subjetivo: é factível.
Um passe errado não é subjetivo, é um fato concreto… já uma cbet mal aplicada pode ser mentirosamente justificada, se necessário.
Eu particularmente acho isso espetacular!
Isso desperta uma necessidade crítica para que você possa evoluir no poker. Enquanto não aceitar que você é limitado e principalmente, que sempre pode evoluir, você vai se estagnar e ser atropelado eventualmente.
O jogador de futebol, basquete, o tenista, o fundista, esses caras tem uma rotina pré-definida para seguir, algo que não acontece com o jogador de poker.
Ele pode trabalhar a qualquer hora, ele pode simplesmente não fazer absolutamente nada por 3 meses, não jogar uma mão de poker, não fazer um cálculo, jogar um torneio e ganhar.
E quando isso acontece cria a falsa impressão de que não precisa disso, mas na primeira “downswing” ele coloca a cabeça no travesseiro e chama de variância.
Quantas vezes você vê um jogador emendar um grande resultado atrás do outro no poker?
A confiança existe no poker da mesma maneira que existe em todos os outros esportes ou, ainda, como em tudo que fazemos na vida! E jogar confiante não é fácil!
O que fazer para jogar poker como o Djokovic joga tênis nos momentos mais difíceis de uma partida?!
A velocidade que você sai de uma fase ruim, ou que recupera a confiança em seu jogo, vai refletir diretamente no seu gráfico no fim de um dia de sessão!
Imagine então a diferença de um mês, ou, ainda, um ano! Sou fã incondicional de Thomaz Bellucci, já vibrei muito com ele, principalmente em seus títulos de ATP.
Imagino que seja muito difícil viver na sombra de um dos maiores tenistas que o mundo já viu, e, justamente por isso, acho admirável o que ele faz em um esporte que não tem tanta visibilidade no Brasil.
Eu decidi usá-lo como exemplo para pensarmos duas vezes antes de criticar um cara que provavelmente trabalha isso muito mais que qualquer jogador de poker já trabalhou em sua vida; também por ser um fã, e poder falar disso de uma forma que não seja crítica… Afinal sou torcedor dele, não crítico especializado. GL nas mesas!